Concerto eterno

Concerto eterno

Quanto tempo se demora
Para se afinar retesadas cordas,
No breu dar-lhes o som perfeito,
E por fim executar da melodia as mais doces notas?

Quanto tempo se tomaria
Em se puxar do metal as ondas
Que lhe dão a vibração da melodia
E por fim executar da música as notas mais longas?

Qual o tempo certo
Em se sentar ao piano,
Sentir-lhe o peso, saber-lhe o scherzo
E executar-lhe aos dedos um concerto bachiano?

Cada qual tem um tempo
Tempos longos, tempos curtos,
tempos de preparação, de dedicação
Tempos de solidão.

Mas finda o tempo de dedicação
E surge o motivo de tanto ardor:
O concerto que, perene,
Em um só momento eternizou essa união.

Há, porém, deslizes
Notas mal-feitas, harmonias não fechadas,
Como pode isso acontecer
Em algo que tanto tempo se dedicou a que perfeito fosse?

Volta-se à dedicação...
Volta-se à afinação...
Volta-se à solidão...
Para, enfim, tornar a se juntar...e separar...e juntar...

Até chegar-se ao concerto que, eterno, nos levará à perfeição.

Débora